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Dia Internacional da Mulher: vestibulares resgatam obras femininas

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É comemorado hoje, 08 de março, o Dia Internacional da Mulher, data foi oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU) na década de 1970. Historicamente, o dia marca a luta pelos direitos das mulheres e por condições equiparadas entre homens e mulheres na sociedade.

Durante muitos anos, entre os séculos XIX e XX, muitas escritoras utilizavam nomes masculinos para publicarem livros ou serem lidas sem um preconceito já estabelecido por seu gênero. Atualmente, o uso de codinomes ainda acontece, mas o lugar das mulheres na literatura se transformou ao longo dos anos.

Como um exemplo da valorização da mulher na literatura, cada vez mais, mulheres têm sido contempladas em vestibulares por todo país. A Fundação Universitária para o Vestibular (Fuvest) é uma das instituições a adotarem mais obras femininas, na lista de livros para os vestibulares de 2026, 2027 e 2028 conta apenas com mulheres.

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A professora e autora de língua portuguesa do Fibonacci Sistema de Ensino, Margarete Xavier, aponta que esse movimento é uma forma de incentivar a leitura de autores e autoras que nem sempre os alunos teriam interesse de buscar conhecer de forma espontânea. Ela acredita que essas listas instigam os alunos a lerem mais.

Clarice Lispector é um dos nomes que mais aparecem em listas de obras selecionadas para vestibulares por todo país. Além dela, Carolina Maria de Jesus, Maria Firmina do Reis e Júlia Lopes de Almeida também são autoras que periodicamente são resgatadas para vestibulares.

Mariana Veiga Copertino, professora de literatura do Poliedro Cursos, acredita que mudanças aderidas pela Fuvest e Unicamp enfatizam a importância de nomes tanto da literatura clássica, quanto da contemporânea. Ela cita Paulina Chiziane, Djaimilia Pereira de Almeida, Conceição Evaristo, Lygia Fagundes Telles, Chimamanda Ngozi Adiche, Rachel de Queiroz, Sophia de Mello Breyner Andresen como algumas dessas escritoras.

Margarete Xavier (esqueda), Mariana Veiga Copertino (centro) e Gustavo Mônaco (direita)
Creditos das imagens: acervo pessoal

Leitura de obras femininas por vestibulandos

Margarete frisa que as mulheres abordam sentimentos de uma forma mais explícita que os homens, muitas vezes por já terem sido silenciadas por tanto tempo. “As mulheres foram, muitas vezes, impedidas de ter voz e vez de fala, foram forçadas a passar a vida toda no ‘cale-se’ e agora colocam para fora problemas, sentimentos, visão de mundo e a própria situação de empoderamento”, conta a professora.

Xavier acredita que a escrita e leitura de mulheres como Chimamanda Ngozi Adiche, Lygia Fagundes Telles, Djaimilia Pereira de Almeida e Clarice Lispector traz ao mundo uma nova construção da ideia de uma mulher e as realidades vividas por elas

“Acho que é possível afirmar que, em alguns casos, as escritoras, pelas próprias vivências e experiências, criam personagens femininas complexas, multifacetadas e autênticas. Não quer dizer que os autores homens não tenham personagens femininas emblemáticas, muito pelo contrário. Porém, a genuinidade das experiências femininas configura uma descrição quase característica nesse sentido.”

Mariana Veiga Copertino

Para Mariana, o vestibular possui um lugar de resgate da escrita de muitas autoras, exercendo um papel de reparar e enaltecer mulheres como sujeitos literários. A marginalização de obras de autoria feminina faz com que o papel do vestibular ao incentivar essa leitura seja expressivo para o combate do anonimato de escritoras que eram marginalizadas por simplesmente serem mulheres.

Incentivar essa leitura nas escolas é uma forma de pluralizar o senso crítico e o repertório dos alunos. Isso porque, segundo Mariana, a escola é um ambiente de descoberta para alunos, desde os anos iniciais até ensino médio, e vestibulares são uma forma efetiva de incentivo à leitura. Margarete também fala da importância de levar a leitura de obras femininas para alunos que estejam cursando o ensino fundamental, promovendo, até mesmo, uma troca com alunos mais velhos.

Obras femininas da Fuvest

A Fuvest está com a proposta de uma lista de leituras obrigatórias composta exclusivamente por obras escritas por mulheres. Nos vestibulares dos próximos três anos (2026, 2027, 2028) os candidatos terão a oportunidade de expandir seus repertórios.

O diretor executivo da Fundação, Gustavo Mônaco, aponta que a proposta surgiu da necessidade de dar mais destaque a autoras com obras relevantes, mas que foram invisibilizadas em suas épocas, perante uma predominância masculina. “Esse movimento é importante na medida que permite que, não somente, as novas gerações conheçam essas autoras, mas entrem em contato com uma visão de mundo muito própria e específica dessas mulheres”, comenta ele.

Gustavo conta que a expectativa é que os alunos conheçam essas obras e as contraponham a outras obras dos mesmos movimentos literários a que elas pertencem. Mariana acredita que essa proposta seja uma vitrine significativa para essas coletâneas, além de valorizar a literatura feita por mulheres e incentivar outros vestibulares a adotar ações semelhantes.

Lista de obras femininas em vestibulares

Veja as listas de obras de alguns vestibulares:

Fuvest 2026:

  • Opúsculo Humanitário (1853) – Nísia Floresta

  • Nebulosas (1872) – Narcisa Amália

  • Memórias de Martha (1899) – Julia Lopes de Almeida

  • Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz

  • O Cristo Cigano (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen

  • As meninas (1973) – Lygia Fagundes Telles

  • Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane

  • Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo

  • A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida

UFSC 2026:

  • Solitária (novela), de Eliana Alves Cruz. Editora: Companhia das Letras.

  • Parque Industrial (romance), de Pagu. Editora: Companhia das Letras.

  • Mulheres empilhadas (romance), de Patrícia Melo. Editora: LeYa.

UFPR 2026:

  • A falência – Julia Lopes de Almeida

  • O livro das semelhanças – Ana Martins Marques

  • Quarto de despejo – Carolina Maria de Jesus

Unicamp 2026:

As listas da UFSC, UFPR e Unicamp não estão completas. Para conferí-las na íntegra, além das obras de outros vestibulares acesse este link.

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